quarta-feira, 23 de setembro de 2015


O Papa Francisco em Cuba, um não às ideologias.


A Visita histórica do Papa Francisco à Cuba acabou ontem, e sem dúvida alguma é uma viagem que vai deixar marcas no povo Cubano, marcas de fé e esperança em um povo que sofreu e continua a sofrer pelos mandos e desmandos da ditadura Castrista e do embargo Norte Americano à Ilha.

Para compreendermos melhor o que representou a visita, e o que o Papa transmitiu ao fazer essa visita, gostaria de colocar um série de citações de seus discursos, entrevistas, homilias, etc... bem como um fato que considerei inusitado, e que sem ofender claramente o ex-presidente Fidel Castro, serviu como uma cutucada do Papa aos erros cometidos pelo ex-presidente.


Um dos primeiros atos do Papa foi surpreender o ditador Fidel Castro: 


O Santo Padre ganhou de presente um péssimo livro do também péssimo Frei Betto, representante da TL de linha marxista, que ele tanto combatera na Argentina e entre os seus confrades jesuítas, mas respondeu dando como presente aos ditadores da ilha prisão, entre outras coisas, uma coleção de homilias do Pe. Llorente, SJ, orientador espiritual de Fidel antes dele aderir ao comunismo e que foi expulso de Cuba por ser contrário à revolução. (Extraído do facebook de Rafael Vitola Brodbeck)

O serviço aos mais pobres não pode ter raiz ideológica

Durante homilia na Praça da Revolução em Havana, o papa fez questão de frisar que o serviço aos pobres deve ser um serviço da caridade que vem de Deus, e não pode possui motivações ideológicas:

"Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe no centro a questão do irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até «padece» com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas." (1)

Em discurso aos jovens condenou o aborto e a eutanásia e convidou-os a sair de uma visa ideologizada do mundo

Condenando a cultura do descarte, que não mais se preocupa com os jovens, também fez questão de frisar que essa mesma cultura, também tende a descartar crianças no ventre de suas mães através do aborto, e descartar  idosos através da Eutanásia e de uma eutanásia encoberta em que os idosos são maltratados e abandonados. Também nesse mesmo discurso criticou a visão ideologizada da realidade, pois essa acaba por deformar a realidade em esquemas pré-concebidos:?

"Evidentemente, um povo que não se preocupa em dar trabalho aos jovens, um povo – e, quando digo povo, não digo governos, mas todo o povo, as pessoas que não se preocupam com que estes jovens trabalhem – esse povo não tem futuro. Os jovens tornam-se parte da cultura de descarte. E todos sabemos que hoje, neste império do deus dinheiro, descartam-se as coisas e descartam-se as pessoas. Descartam-se as crianças, porque não querem tê-las ou matam-nas antes de nascer. Descartam-se os idosos – falo do mundo em geral –, descartam-se os idosos porque já não produzem. Em alguns países, há a lei da eutanásia, mas em muitos outros reina uma eutanásia escondida, encoberta".

"E é preciso também o discernimento, porque é essencial abrir-se à realidade e saber lê-la sem medo nem preconceitos. Não servem as leituras parciais ou ideológicas, que deformam a realidade para caber nos nossos pequenos esquemas preconcebidos, provocando sempre desilusão e desespero. Discernimento e memória, porque o discernimento não é cego, mas realiza-se sobre a base de sólidos critérios éticos, morais, que ajudam a discernir o que é bom e justo" (2)


A Verdadeira revolução que devemos fazer é a revolução da ternura

Em homilia na Basílica Menor da Virgem da Caridade do Cobre o Santo Padre mostrou como deve ser a verdadeira revolução. Não uma revolução com armas, não uma revolução ideologizada, mas uma revolução da ternura que abre o Coração ao próximo a exemplo da Virgem Maria:

"Geração após geração, dia após dia, somos convidados a renovar a nossa fé. Somos convidados a viver a revolução da ternura, como Maria, Mãe da Caridade. Somos convidados a «sair de casa», a ter os olhos e o coração abertos aos outros. A nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que sempre se faz proximidade, que sempre se faz compaixão – que não é comiseração; é padecer com, para libertar – e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos outros." (3)

O Futuro a ser deixado aos nossos filhos, é um futuro em família

No encontro com as famílias falando sobre a famosa frase: "Que futuro deixaremos aos nossos filhos", o santo Padre fez questão de frisar que  este futuro precisa ser a família, este "é o melhor legado"


"Discute-se muito hoje sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que uma das respostas possíveis se encontra pondo o olhar em vós, nesta família que falou, em cada um de vós: deixemos um mundo com famílias. É o melhor legado. Deixemos um mundo com famílias." (4)

"E se for necessário que eu recite o credo, estou disposto a fazê-lo, hein"

Por fim já no voo de ida Para os Estados Unidos o Papa respondeu a um jornalista que  questionou sobre o que achava de que alguns meios e setores da sociedade americana chegassem “a perguntar se o Papa é católico” pois se já houve “discussões nas que falavam do Papa comunista, agora estão até mesmo os que falam de um Papa que não é católico”.

Respondeu o Papa:

"Um cardeal amigo me contou uma senhora muito preocupada, muito católica, um pouco rígida, mas boa católica, se aproximou dele e perguntou se era verdade que na Bíblia se falava de um anticristo e ele explicou-lhe. E também no Apocalipse, não? E depois, se era verdade que se falava de um antipapa, que o anticristo, o antipapa. ‘Mas por que me faz esta pregunta?’, perguntou o cardeal. ‘Porque eu estou segura de que o Papa Francisco é o antipapa’. ‘E por que pergunta isto? Por que tem esta ideia? ’ ‘E, por que ele não usa os sapatos vermelhos, assim, histórico...?’. Os motivos, de pensar por que alguém não usa os sapatos vermelhos. Os motivos de pensar se alguém é comunista ou não é comunista…
Eu estou seguro de que não disse uma só coisa que não tenha estado na doutrina social da Igreja . No outro vôo uma colega me disse que eu havia estendido a mão aos movimentos populares e me perguntou: 'mas a Igreja o seguirá?  Eu lhe disse: 'sou eu que sigo a Igreja'. E nisto me parece que não me equívoco.
Acredito que nunca disse uma só coisa que não fosse da doutrina social da Igreja. As coisas podem explicar-se, possivelmente uma explicação deu uma impressão de ser um pouquinho mais esquerdista, mas este seria um erro de explicação. Não, minha doutrina sobre tudo isto, sobre a Laudato Sì’, sobre o imperialismo econômico, tudo isto, é da doutrina social da Igreja. E se for necessário que eu recite o credo, estou disposto a fazê-lo, hein.” (5)



terça-feira, 16 de junho de 2015

Pe. Fábio de Melo: laicismo, erros históricos e defesa da União Civil entre pessoas do mesmo sexo.

Depois de toda a confusão envolvendo o  Pe Fábio de melo e a defesa que este fez da separação entre Igreja e o Estado inclusive nas criações das leis de uma nação, ele defendeu-de em seu Twitter, usando entre tantos Tweets o seguinte:
"Estabelecer a distinção entre Estado/Igreja é para alguns heresia. Deturpar o que você escreveu, e lhe condenar ao inferno, não. Ah gente!"
Vale ressaltar que em nenhum caso a suspeita temerária é sadia, e que infelizmente instaurou-se entre os "apologistas" do ambiente virtual, julgar todo mundo e a todos, sem levar em consideração o coração das pessoas. Ora em primeiro lugar o que o Pe defende é de fato escandaloso e merece sim uma punição ou ao menos uma boa chamada de atenção, mas creio não chegar a ser uma heresia propriamente dita, apesar de ser terrível. Em segundo lugar existe uma coisa chamada pertinácia, que é a persistência culpável da pessoa em permanecer no erro, e não me parece ou não aparenta ser o caso dele.

Por outro lado cabe lembrar ao padre que existe uma diferença enorme entre pecado mortal e pecado de heresia. Ora, como é possível ele deduzir heresia de um pecado contra o Oitavo mandamento? O ato de julgar alguém sem justo motivo ou equivocadamente se encaixa no oitavo mandamento, mas está longe de ser heresia ou algo do tipo.

Dito isso vamos ao motivo do post, ou seja, a refutação ao que disse o Padre... 

O Padre fala a respeito de uma distinção entre Igreja e estado, o que de per si não é errado a julgar pela atual disciplina da Igreja que vem desde Pio XII, sobre as relações de Igreja e estado. Por exemplo Pio XII fala de uma 
"legítima e sadia laicidade do estado" (1). O problema não reside no fato dele ter feito uma distinção entre Igreja e estado, o problema está no como ele fez isso e na proporção que ele fez isso.
Da mesma forma que Pio XII defendia uma justa laicidade do estado, ele condenava de maneira enérgica o laicismo. O que o Pe Fabio faz nada mais é que levar esta separação da Igreja e do estado ao extremo. Não é pq a Igreja não deve reger tudo o que acontece em um país, que as leis desta nação podem ir contra a lei moral objetiva ou contra a natureza da criação. Isso que o Padre fez pende para o Laicismo, este por sua vez condenado pela Igreja. Nesse sentido o Padre erra por senso de proporção, pois vai além da sadia laicidade e pende para o Laicismo, ideologia assassina que matou vários cristãos, entre eles os mártires Cristeros no México.
Assim se expressou por exemplo a Igreja em uma Nota Doutrinal sobre questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política, de 24/11/2002:
"Nas sociedades democráticas todas as propostas são discutidas e avaliadas livremente. Aquele que, em nome do respeito da consciência individual, visse no dever moral dos cristãos de ser coerentes com a própria consciência um sinal para desqualificá-los politicamente, negando a sua legitimidade de agir em política de acordo com as próprias convicções relativas ao bem comum, cairia numa espécie de intolerante laicismo. Com tal perspectiva pretende-se negar, não só qualquer relevância política e cultural da fé cristã, mas até a própria possibilidade de uma ética natural. Se assim fosse, abrir-se-ia caminho a uma anarquia moral, que nada e nunca teria a ver com qualquer forma de legítimo pluralismo. A prepotência do mais forte sobre o fraco seria a consequência lógica de uma tal impostação. Aliás, a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projeto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização"(2)
O Padre Fábio também erra em como ele defendeu em seu twitter a separação da Igreja e do estado. Ele faz esta defesa usando como carro chefe o "direito" dos homossexuais de contraírem uma união. Um dos argumentos usados pelo Padre é que "As igrejas não podem, por respeito ao direito de cidadania, privar as pessoas, que não optaram por uma pertença religiosa, de regularizarem suas necessidades civis. Se duas pessoas estabeleceram uma parceria, e querem proteger seus direitos, o Estado precisa dar o suporte legal."
Ora isso é evidentemente falacioso pois tal direito já é assegurado sem precisar que aja uma união civil pra isso. Além do mais ainda que fossemos pensar em considerar o argumento, nenhum fim justifica o meio utilizado. Como é possível usar a destruição do conceito familiar célula construtora da sociedade como meio para criar direitos para alguns? Destruiríamos toda a célula social simplesmente para assegurar o direito de uma minoria? Em fins, aqui a falácia é dupla. Ele em primeiro lugar cria uma preocupação falsa pois os direitos estariam protegidos por qualquer meio legal, sem recorrer a união estável ou ao matrimônio, e em segundo pq através dessa preocupação falsa, coloca em risco toda a estrutura social para assegurar o direito de alguns.
Assim se manifesta o Papa Emérito Bento XVI em um documento onde faz uma série de refutações ao projetos de união civis entre pessoas do mesmo sexo:
"Não é verdadeira a argumentação, segundo a qual, o reconhecimento legal das uniões homossexuais tornar-se-ia necessário para evitar que os conviventes homossexuais viessem a perder, pelo simples facto de conviverem, o efectivo reconhecimento dos direitos comuns que gozam enquanto pessoas e enquanto cidadãos. Na realidade, eles podem sempre recorrer – como todos os cidadãos e a partir da sua autonomia privada – ao direito comum para tutelar situações jurídicas de interesse recíproco. Constitui porém uma grave injustiça sacrificar o bem comum e o recto direito de família a pretexto de bens que podem e devem ser garantidos por vias não nocivas à generalidade do corpo social".(3)
Por fim o Padre diz: "O cristianismo nunca foi vivo e convincente como nos primeiros séculos, período em que vivia apartado do Estado"
O que é uma mentira descabida e que mostra um conhecimento histórico do Cristianismo pífio.
O Cristianismo e toda a humanidade nunca foram tão fortes e convincentes quanto no período da Cristandade em que a Igreja e o estado caminhavam como que numa só voz. Escrevia um Papa da época: O Poder espiritual julgava o poder temporal. O poder espiritual era julgado pelo poder supremo, isto é o Santo Padre, e o poder supremo era julgado somente por Deus.

O convencimento inicial do cristianismo nos primórdios estava no fato de que "o sangue dos mártires eram sementes de novos cristãos". Ou seja, o fator de atração do cristianismo era o 
martírio, muitos se convertiam ao verem os cristãos dando suas vidas de maneira heroica e sem renunciar a sua fé. Se o Padre parte deste princípio de atração do Cristianismo, então que volte logo os tempos do martírio, pois assim o poder de atração do cristianismo cresce. Ainda assim vale lembrar que alguns historiadores julgam que durante a perseguição de Dioclesiano o cristianismo quase findou, só não findou (Evidentemente por obra de Deus) pq após Dioclesiano veio Constantino e a perseguição cessou.

1.http://w2.vatican.va/content/pius-xii/it/speeches/1958/documents/hf_p-xii_spe_19580323_marchigiani.html

2.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20021124_politica_po.html

3.http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20030731_homosexual-unions_po.html